VS
ENCONTRO COM O RIO.
Por: Mauricio Ado de Sousa.
Um policial com megafone — Vai, se entrega Flávio Caçapa!
Ele estica os dois braços para cada lado, armas 9mm apontadas ele atira em dois pontos ao mesmo tempo...E os dois tiros partem até chegar a duas pessoas onde os projeteis invadem a caixa torácica, dilacerando a carne de cada individuo.
Os carros da polícia cercam Flávio.
Flávio Caçapa — Quer dizer que a polícia me quer morto?Que venham...
Imprensa, todos ali na frente daquele boteco de Vila, onde se escondeu o Flávio.
O policial chefe da operação — Atenção todos...é pra pegar o Flávio Caçapa!
Flávio atira sete vezes contra os carros.
Flávio — E aí? Poliçada se sentindo um bando de idiotas, imbecis?
Todos olham para acima do boteco, o teto perto de uma antena parabólica antiga.
Uma voz de um repórter descreve a pessoa acima do bar — É o HIPER!
Flávio fica desconfiado quando todas as câmeras apontam para o teto do boteco.
Flávio, pensando: “O que foi? Será equipe especial no teto?”.
Hiper dá um pequeno salto mas ao descer no mesmo ponto a força é tanta que o teto naquele trecho desaba e ele acaba no térreo para surpresa do Flávio Caçapa.
Flávio Caçapa reagindo de susto — Vai comer chumbo seu desgraçado!
Cinco tiros para sorte de Hiper de calibre 38, ficam os hematomas mas nada sério.
O Hiper — Sem pena? Sem motivo nenhum?
Flávio Caçapa com o estupor na cara — Que?
Hiper pega as armas do meliante e consegue esmagar os canos...Dois socos e Flávio está no chão desmaiado. Lá no canto uma menina, a menina que ele seqüestrou.
Hiper — Oi garota, calma..Sem afobação...Eu vim ajudar de onde você é?
A menina chorando muito — Do Boréu...
Hiper — Olha Menina esqueça esse maluco...Esqueça esse besta...
A menina tentando se controlar — O senhor é herói?
Hiper nada responde somente leva a menina para fora e a entrega nas mãos do delegado. Na mão direita ele carrega o Flávio pelo cinto...
O delegado se aproxima — Você só pode ser o tal Hiper!
Hiper — Ela, a menina, está estafada, chame uma psicóloga, delegado!
Hiper salta para longe deixando todos impressionados com o impulso que ele tem.
Noutro dia.
O Jornal O País trás estampado na primeira página: “Hiper prende assassino Flávio Caçapa!”
A reportagem fala do Vigilante que livrou a menina do boréu do perigoso assassino de encomenda que cometeu uma série de crimes há um ano atrás contra vários promotores.
Leblon, um edifício de cinco andares, um apartamento por andar.
Um bilhete sobre a mesa de mármore. Nele está escrito: “Colaborar com o Viva Vida!”
Sede da ONG Viva Vida.
Uma atendente adentra a sala onde o Diego Hyper está tentando gerenciar o grupo.
Atendente — Hã..Hiper, tem um homem aqui querendo fazer um doação pessoalmente!
Hiper — Manda entrar
Entra um homem grande com ar displicente, cumprimenta o Hiper e se senta.
O homem com ar de pouco estudo — O meu patrão queria doar 100 mil para sua ONG!
Hiper — Obrigado, qual a área de atuação de seu patrão podemos declarar isso para que ele consiga os benefícios da lei de incentivos sociais...
O homem faz um ar de contrariado — Não precisão...é uma promessa dele...
O homem se levanta e vai embora. Hiper olha o cheque não reconhece o nome no cheque, não se preocupa.
Bairro do Flamengo.
A noite escura tem como única ponte de esperança a lua, a luz destra reflete no rosto de um homem atormentado. Essa selva de edifícios, certamente a cidade não sabe a causa de tanta violência, nem mesmo por que um homem está nas Ruas querendo cumprir uma jura...Lidar com o crime, também quem sabe como tudo se encaminhou para isso?
Hiper está parado dentro de um velho carro, recém pintado de negro.
Um homem se aproxima — Fala Hiper!
Hiper aperta a mão do homem — Fala Dino!
Dino entra no carro e Hiper dirige enquanto ele fala — Amanhã...Eu consegui...Tem uns caras que tão trazendo o negócio de Barra Mansa pra cá...Pra não cair na rota de São Paulo que tá grampeada pelos policiais...
Hiper — Ouvi...Agora detalhes...
Dino — Os carros...
Ele vai contando tudo, como será o esquema utilizado para chegada da carga ao Rio.
O carro negro ruma para a Zona Norte da cidade. Á sombra da noite ele se prepara.
Na tocaia Hiper só consegue pensar : “Que fazer quando tudo é morte? Talvez me esconder em algum canto do mato...Ou entao debaixo de uma fala coragem, como agora!”.
A máscara virtual de heroísmo pesa na mente de Hiper. A noite vai passando. Ele continua a refletir: “O meu dever é eliminar a injustiça...Mas isso também não é fanatismo...O que é bem na verdade?”. Tudo fica para trás quando surgem os empregados do tráfico.
Os homens descarregam duas vans, caixas e mais caixas de uma dessas cai um fuzil HK. Quando Hiper olha melhor, o homem que parece comandar é o mesmo que lhe entregou o cheque na ONG. Ele parece nervoso com a carga.
Aquele que parece comandar os outros — Você num sabe fazer nada direito não cara!
O homem dá um chute no traseiro do outro.
O homem gritando — Queria só ver se fosse o manda chuva aqui...vendo isso!
Hiper se expõe para todos.
Hiper — Parados! Todos deitados no chão!
Os homens pegam suas armas...Eles são sutis como elefantes.
O homem — atenção rapaziada...Espera um Tempo! Você é o cara que o chefe mandou o cheque...Some daqui, o chefe não vai querer que a gente quem salvou a filha dele...
Hiper na hora se coloca a relembrar : “A única menina que salvei foi aquela do Caçapa!”.
Os homens ficam impacientes pois o vigilante não se retira.
Hiper desafiador — Eu vou prender todos! Melhor parar...Sem reação!
O homem que lidera os outros balança a cabeça.
Um dos subordinados — João HK, que a gente faz, cara?
João HK — Seguinte negada vamos furar o otário o doido...Eu resolvo com o chefe depois!
Os homens e suas aramas. Não há tempo para falar algo mais se não...Os marginais apontam para o vigilante. Alguns aparecem por trás dele. Se ouve as rajadas, os homens param de atirar. O Hiper sumiu. Ele desapareceu deixando os marginais em dúvida. Um deles sente a mão sobre o ombro e é puxado bem forte, e acaba disparando sua arma automática. Acerta outros dois colegas. Sons de caixas sendo quebradas. Eles vêem ago verde pulando e correndo bem rápido, golpes desferidos, marginais sendo jogados. Um soco forte em um dos bandidos que o lança distante, outro golpe e outro homem quebra o ombro. Sobram dois homens de pé.
Um dos subalternos olha para cima e vê uma figura que passa como uma sombra.
Hiper desce com o cotovelo na altura da cintura do homem e acaba quebrando a bacia do fulano. Hiper salta de volta para longe, ficando escondido.
Enquanto João HK com um fuzil na mão fica procurando...
João HK — Eu vou te pegar desgraçado!
João HK ouve uma risada, aquele som infinito de: “hahahahaha...”.
Uma sombra reflete, João HK se volta para trás, ele sofre um ferimento na perna, um lápis entra no meio da coxa, Hiper pega a HK da mão dele e joga longe, o vigilante chuta e quebra o joelho do marginal. Hiper o olha fixamente.
Hiper — Gostei pra caramba de bater em você, agora quem é tem chefe?
João HK — Otário! Tu acha ...Que há contigo? Num sabe que ninguém abre o bico...
Outro chute agora no outro joelho, ouve-se a rótula sair do lugar.
Hiper — Fala bundão! Tu vai falar...
Leblon...Uma hora depois...
Um belo salto e Hiper pára na varanda do apartamento que queria entrar.
Hiper — Olá? Alguém por aqui...
Vários homens aparecem apontando armas...
Hiper — Isso não vai adiantar galera!
Um homem atarracado, mulato aparece, todo vestido de branco.
O homem fumando um charuto — Hiper!
Hiper — Você é Rico Vieira Rio?
O homem balança a cabeça afirmativamente.
Ele manda seus homens abaixarem as armas .
Rico se senta uma cadeira na varanda.
Hiper senta ao seu lado.
Hiper — Por que mandou aquele cara me dar 100 mil?
Rico Vieira Rio — Você salvou a infância da minha guria...
O Hiper olhando — Ela é sua filha?
Rico Vieira Rio — No meu ramo a gente não pode sair falando quem é parente, ela mora lá com a mãe no Boréu..Infância boa...Mandaram o Caçapa ir lá e pegar a guria...Por que acha que tinha tanto policial atrás dele naquele dia...Todos da minha folha de pagamento...
O Hiper — E ela mora no Boréu por...
Rico — A mãe quer!
O Hiper — Não seria por que a mãe da guria é sua segunda ou terceira amante?
Rico Vieira — Pronto, já gostei de ti! Quer trabalhar pra mim...Tua ONG vai...
O Hiper — Não vou entrar na tua folha de pagamento...Aliás eu acabei de entregar o teu funcionário...João, né? Tá lá na Polícia Federal...
Rico — João HK é esperto... além do mais...Delegado...Promotor, todos tem um valor, já vem com etiqueta de preço...
Hiper — Pois eu não venho com etiqueta não...
Rico Vieira — Quer brincar de herói pode brincar...Pela minha filha não mexo contigo, contando que você não mexa nos meus negócios...Dessa vez passa!
Hiper — Se acha...
Rico Vieira Rio — Quem manda nos morros? Vieira Rio! Quem manda no asfalto? Eu!
Hiper — Quer dizer que você se acha o dono do Rio?
Rico Vieira Rio — Já disse...
Hiper — ...Comigo não carinha...Repito...Eu não tenho etiqueta de preço...Entendido?
Hiper se levanta e já se prepara para sair.
Rico Vieira Rio — Pode ser, mas você não vai devolver a grana que dei pra ti, vai?
Hiper não responde apenas se vai num salto espetacular...
Rico Vieira Rio — Eu vou montar uma para esse cara...Qualquer hora dessa!
Casa.
Pela vida lá fora nas ruas, pelo que dizem ser o mal, pela violência imperante, nós devemos nos esconder em nossos lares...E eles os agentes da discórdia ficam lá fora?
Hiper se deita na cama tentando refletir sobre tudo o que ocorreu. Sobre a infância de uma menina, sobre a menor que deve ser mãe dessa mesma menina. Homens como Rico sempre tem uma amante que não passa de adolescente...
Manhã seguinte...Jornal “O País”:
“Encontrado degolado dentro da cela Flávio Caçapa!”
Uma risada num canto nobre e bem mobiliado da cidade do Rio de Janeiro.
Um homem vestido de branco acende outro charuto.
vs
FIM.